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Bucelas Capital do Arinto
Cem anos como Região Demarcada | Março de 2011

 

 

A convite da Câmara Municipal de Loures o Senhor Presidente da Direcção da CVR Lisboa, Dr. Vasco d’Avillez, participou na cerimónia da comemoração da Região Demarcada de Bucelas, que teve lugar no dia 3 de Março de 2011, no Auditório Tomás Noivo, onde apresentou a seguinte intervenção:

BUCELAS e o Decreto de 3 de Março de 1911

As primeiras menções legais à região vitivinícola de Bucelas vêm dos tempos da Monarquia e do ano de 1908, em que algumas Regiões foram demarcadas e, portanto, de uma altura em que o país político falou nesse assunto com muita insistência. O Vinho de Bucelas é de facto reconhecido, e aparece mencionado na Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908, da autoria do Governo de Ferreira do Amaral, sendo Rei o Senhor D. Carlos, enquanto que o Decreto-lei de 1 de Outubro desse ano, dos mesmos autores, refere os Vinhos de Pasto da Região de Bucelas. Curiosamente os governantes já se tinham dedicado aos Bucelas, nomeadamente o Marquês de Pombal, mas sem nunca se terem decidido pela demarcação da região ou sequer pela sua regulamentação. Essa aparece pela primeira vez no Decreto-lei de que se comemora hoje o 1º Centenário, e que contém o Regulamento para o Comércio do Vinho de Pasto Bucelas. Este diploma cria e demarca a região de Bucelas para Vinhos Brancos.

A Fama destes vinhos Bucelas, no entanto, vem já de muito longe e temos a História a contar-nos que os Romanos, há cerca de 2200 anos, vieram para a Península e traziam consigo as suas tradições e os seus usos e costumes, entre os quais o de pagarem ao seu Pessoal de três formas diferentes: 1/3 em vinho; 1/3 em moedas de soldo (e por isso eles se chamavam «soldados») e o terço restante em sal, que constituía o seu “salário”. Ora uma das legiões que veio para a Ibéria vinha da Germânia, e o seu destino era o de acamparem perto de Olissipo, hoje Lisboa, para guardarem a construção de silos de armazenamento de cereais, os bucellarium. Daqui nasce o nome da Vila: Bucellas, como se escrevia até há bem pouco tempo e, sobretudo, se abre mais uma pista sobre a possível origem de haver aqui uvas brancas de tanta qualidade, que poderiam ter vindo da Germania que hoje em dia produz uvas brancas como a Riesling, de uma qualidade absolutamente ímpar. De uma forma ou de outra a verdade é que Bucelas, a capital do Arinto, conta com esta casta que, em Portugal, se tornou digna de muito apreço pelos magníficos vinhos que produz.

Há uma outra menção, do Sec. XVI, em 1594, de um dos maiores poetas e dramaturgos do Mundo, William Shakespeare que, numa das suas peças, menciona um vinho de Bucelas assim:
     King Henry VI
     Second Part
     ACT II, Scene III
     First Neighbour: Here, Neighbour Horner, I drink to you in a cup of sack; and fear not neighbour, you shall do well enough.
     Second Neighbour: And here, neighbour, here’s a cup of Charneco

Charneco era um Vinho Bucelas que era feito numa das zonas de Bucelas que se chama Charneca, e que é um lugar na freguesia de Vila de Rei.

Mais tarde, o famoso Marquês de Pombal interessou-se muito pelos vinhos de Bucelas e, dizem as lendas, mandou vir castas brancas da Alemanha, para serem plantadas em Bucelas, por achar que essa região teria maior aptidão para este tipo de uvas. Outros, mais nacionalistas, pretendem ao contrário, que teriam sido alguns cavaleiros teutónicos, os Cruzados, que regressados da Terra Santa, via Lisboa, teriam levado para a Germania as castas brancas que encontraram aqui e, por isso, a Alemanha de hoje teria vinhos brancos tão bons. O certo é que o Marquês de Pombal, quando foi para o exílio interno em Pombal, teve a sua carruagem apedrejada em quase todas as vilas por onde passou, excepto na passagem por Bucelas, por as gentes dali lhe quererem mostrar gratidão pelas ajudas em melhorar os vinhos, o que significava melhoria geral das condições de vida também para o povo.

Wellington, o cabo de guerra inglês que tanto ajudou Portugal a repelir os Franceses de Napoleão, bebia e gostava dos vinhos de Bucelas e de outros dali perto (o Carcavelos, o Colares, etc.). Como percebeu que eram vinhos de grande qualidade oferecia-os aos seus amigos e ofereceu-os também ao seu Rei, Jorge III e ao filho deste, o Príncipe de Gales, mais tarde Jorge IV, tio da Rainha Vitória, e grande apreciador das coisas boas da vida. Pela palavra deste monarca os vinhos passam a ser conhecidos no Reino Unido pelo nome de Wines of Lisbon, o que muito os celebrizou pois lhes deu logo um berço, que em vinhos é muito importante. Quer os Ingleses quer os Portugueses ofereciam estes vinhos e enviavam-nos como presentes, nas embaixadas que no tempo mandavam às cortes da Europa, de África e da Ásia, sempre com óptimos resultados.

A região produz não apenas o Arinto, mas outras castas brancas nomeadamente a Esgana-Cão, também conhecida por Sercial, e a Rabo-de-Ovelha. Os vinhos brancos são frescos e secos, com um travo mineral na boca que é o que faz com que todos gostem destes vinhos.

Há quatro autores que mencionam e dedicam grande parte do seu tempo ao estudo de Bucelas: Ferreira Lapa e Cincinato da Costa tecem-lhe elogios e o primeiro descreve-o como um Vinho do Termo de Lisboa. O leitor há de reparar que é a segunda vez na História que estes vinhos são referidos como sendo «de Lisboa», o que foi mais uma razão que levou a que, em finais de 2009, a região que tinha o nome de Estremadura mudasse para Lisboa, e assim estivesse mais sintonizada com todos os vinhos diferentes que abarca no seu seio: Carcavelos; Colares; Bucelas; Torres Vedras; Alenquer; Arruda; Óbidos; Lourinhã e Encostas d’Aire.

Por sua vez, Esteves Gonçalves e Carvalho Ghira escrevem sobre a Região e mencionam-no sempre em termos elogiosos, sendo que Carvalho Ghira faz uma Enciclopédia sobre os Vinhos da Estremadura, como então se chamavam, e escreve com muita minúcia sobre todos os Vinhos da Região de Lisboa, enriquecendo, em muito, este conceito que agora procuramos desenvolver e promover.

Os principais indicadores sobre a DO Bucelas são os seguintes:
     Garrafas comercializadas:
          2009 – 348.823 garrafas de 0,75 l (inclui 27.914 de VEQPRD)
          2010 – 490.038 garrafas de 0,75 l (inclui 18.453 de VEQPRD)

Bucelas é a segunda Denominação com maior volume de comercialização, com uma expressão de 22% em 2009 e 27% em 2010, relativamente à totalidade de garrafas comercializadas das Denominações de Origem que se encontram dentro da área de influência da CVR Lisboa.

     Dentro da região os principais produtores engarrafadores, são:
          António João Paneiro Pinto – Marcas: Chão do Prado. (Tranquilo, Espumante, Colheita Tardia)
          Carlos Jorge Sousa Leite Elvas Canário – Marcas: Casal d’Além.
          Cavipor – Vinhos de Portugal – Marcas: Caves Velhas, Bucellas, Quinta do Boição. (Espumante)
          Companhia das Quintas – Sociedade Agrícola Quinta da Romeira de Cima, S.A. – Marcas: Prova Régia, Pegos Claros, Quinta da Romeira (Espumante), Morgado de Sta Catherina.
          Encosta da Murta – Sociedade Enoturística, S.A. – Marcas: Quinta da Murta (Tranquilo e Espumante), Myrtus, Vale da Murta.
          Enoport – Produção de Bebidas, S.A. – Marcas: Caves Velhas.
          Enovalor – Agro-Turismo, S.A. – Marcas: Quinta do Boição (Tranquilo e Espumante), Bucellas.
          Sociedade Agro-Pecuária Quinta do Avelar, Lda – Marcas: Quinta do Avelar.

Resta-nos mencionar que a Filoxera, atingiu a região de Bucelas no ano de 1876 e, como tinha sucedido em Portugal e por toda a Europa, a devastação foi completa. No início do Sec. XX recomeça a plantação de vinha e foram observadas as regras básicas, embora a plantação se tenha feito com as castas brancas muito misturadas entre si. Era a técnica que havia na altura.

Até agora e desde os anos cinquenta, novamente se pediu à agricultura um esforço gigantesco e tudo foi replantado e/ou reestruturado de forma a podermos ter as uvas mais sãs, a maturação mais bem acompanhada e, numa palavra, os melhores vinhos possíveis.

E são-no sem dúvida. Os profissionais nunca se arrogam o prestígio de terem o melhor vinho do mundo. No entanto, isso sim, sabemos que o Bucelas, quer pela sua qualidade intrínseca, quer pela sua história, quer ainda pelo trabalho que deu a fazer, é um vinho digno da mesa e da companhia de quem nós mais gostamos. É um vinho romântico. É um prazer servi-lo e bebê-lo!

BUCELAS dia 3 de Março de 2011
Vasco d’Avillez
Presidente da Direcção
CVR Lisboa 


Versão em inglês

Bucelas and the decree of March 3rd 1911

The first official references to the region of Bucelas can be traced to the Monarchy, more precisely to 1908 when several regions were demarcated and the issue was discussed at great length by the political class. The Bucelas wine was recognized and is mentioned in a law dated 18th of September, 1908, during the Government of Ferreira do Amaral, during the reign of D. Carlos 1st. A further decree, dated 1st of October of the same year, mentions the table wines of the Bucelas region. Bucelas wines had, incidentally, been the focus of political attention before, namely by the Marquis of Pombal, however the region had never been demarcated or regulated. Regulation was finally passed into law on the 3rd of March 1911, exactly one century ago today. That law contains the regulation for the Sale of Bucelas Table Wines and creates and limits the Bucelas region for white wines.

The reputation of Bucelas wines, however, had already come a long way. On one hand history teaches us that the Romans, who appeared in the Iberian Peninsula around 2200 years ago, brought with them their customs, amongst which that of paying their employees in three different ways: 1/3 in wine; 1/3 in coins, known as solidi, from whence derives the term “soldier”, and a final 1/3 in salt, which gave rise to the term “salary”. One of the legions which arrived in Iberia came originally from Germania and its mission was to set up quarters outside Olissipo, now Lisbon, in order to guard the construction of the grain silos, known as bucellarium. This is where the place name Bucellas, as it was written until quite recently, comes from, and above all it uncovers a clue as to the reason why it contains such high quality white grapes, which may well have been brought from Germania where, today, excellent white varieties such as Riesling, are grown. One way or another, the truth is that Bucellas is known as home of the Arinto, a variety which has become famous for the magnificent wines it produces. 

There is another reference, from 1594, by one of the most famous poets and playwrights in the World, Sir William Shakespeare, who mentions a Bucelas wine in “King Henry VI”, Second Part, Act II, Scene III:

     First Neighbour: Here, Neighbour Horner, I drink to you in a cup of sack; and fear not neighbour, you shall do well enough.
     Second Neighbour: And here, neighbour, here’s a cup of Charneco!!

Charneco was a wine produced in Charneca, in Vila de Rei, within the Bucelas region.

Later, the famous statesman Marquis de Pombal became very interested in the Bucelas wines. Legend has it that he had white varieties imported from Germany, to be planted in Bucelas because it was the region best suited for this type of grape. The more nationalistic maintain that teutonic knights, passing through Lisbon on their return from the Crusades in the Holy Land, took the white varieties back to Germania with them, which would explain why Germany now produces quality whites. What we do know is that Pombal, after being exiled to one of his properties, had his carriage stoned in every town he passed, except Bucelas, as the inhabitants wanted to express their gratitude for his having helped them improve their wines and, by extension, their quality of life.

Wellington, the officer who helped Portugal beat back Napolean’s armies, was a fan of Bucelas and other local wines such as Carcavelos and Colares and, realising that they were high quality products, gave them as gifts to friends and even to his King, George III and, afterwards, to George IV who greatly appreciated them. It was the latter who coined the term “Wines of Lisbon” which helped project them and give them a recognizable origin, which is extremely important for wines. Both the Portuguese and the English offered these wines as gifts along with the embassies they had sent to the royal courts of Europe, Africa and Asia, and always to great acclaim.

The region does not only produce Arinto, but also other white variaties such as Sercial and Rabo-de-Ovelha (Ewe’s Tail). The whites are fresh and dry, with a hint of mineral flavours which makes them so appreciated by everybody.

Four authors dedicated much time to the study of Bucelas: Ferreira Lapa and Cincinato da Costa praise it highly and the former describes it as a Lisbon Wine. This is the second time in history that we see these wines described as pertaining to Lisbon, which is one more reason why, toward the end of 2009, the region which was formerly known as Estremadura changed its name to Lisboa, bringing it more into synch with all the different wines which are produced in it: Carcavelos; Colares; Bucelas; Torres Vedras; Alenquer; Arruda; Óbidos; Lourinhã and Encostas d’Aire.

Then we have Esteves Gonçalves and Carvalho Ghira who write of the region and always use the most generous terms. Carvalho Ghira went so far as to produce an Encyclopaedia of Estremadura Wines, as they were known then, going into much detail about all the wines from the Lisbon Region and adding great value to this concept which we are now trying to develop and promote.

Here are the main indicators of the Bucelas Designation of Origin:

     Bottles transacted:
          2009 – 348.823 bottles (including 27.914 VEQPRD [Sparkling wine produced in a Demarcated Region])
          2010 – 490.038 bottles (including 18.453 VEQPRD)

Bucelas is the second largest designation in commercial terms, accounting for 22% in 2009 and 27% in 2010 in relation to the total amount of transacted bottles from the designations of origin within the Lisbon region.

     Within the region, the main producers and bottlers are:
          António João Paneiro Pinto – Brands: Chão do Prado. (Still, Sparkling, Late Harvest)
          Carlos Jorge Sousa Leite Elvas Canário – Brands: Casal d’Além.
          Cavipor – Vinhos de Portugal – Brands: Caves Velhas, Bucellas, Quinta do Boição. (Sparkling)
          Companhia das Quintas – Sociedade Agrícola Quinta da Romeira de Cima, S.A. – Brands: Prova Régia, Pegos Claros, Quinta da Romeira (Sparkling), Morgado de Sta Catherina.
          Encosta da Murta – Sociedade Enoturistica, S.A. – Brands: Quinta da Murta (Still and Sparkling), Myrtus, Vale da Murta.
          Enoport – Produção de Bebidas, S.A. – Brands: Caves Velhas.
          Enovalor – Agro-Turismo, S.A. – Brands: Quinta do Boição (Still and Sparkling), Bucellas.
          Sociedade Agro-Pecuária Quinta do Avelar, Lda – Brands: Quinta do Avelar. 

A final word about the Filoxera plague which affected the Bucelas region in 1876. As was the case in the rest of Europe and Portugal, the devastation was total. At the beginning of the XX Century vines were planted once more and basic regulations were observed, although the white varieties were mixed in together. Such was the technique used at the time.

Since the 50’s, and thanks to an enormous agricultural effort, everything was replanted and/or restructured so that we now have healthier grapes, a better maturation process and, in a word, the best possible wines.

And so they are! A professional will never boast having the best wine in the World, however we do know that because of its intrinsic value, its noble history and all the hard work put into its production, it is a wine which is worthy to be served to those whose company we cherish most. It is a romantic wine and a pleasure both to serve and to drink!

BUCELAS March 3rd 2011
Vasco d’Avillez
Chairman of the Board
CVR Lisboa 

 
 

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